domingo, maio 29, 2011

GESTÃO, ÉTICA E HIDROVIAS

Neste domingo, vou tratar sobre gestão, ética e hidrovias.
Há muito prevalece a ideia de que conhecimento técnico e habilidade seriam suficientes para equacionar os problemas brasileiros, quiçá do planeta. Nada além de outro sofisma. O mundo inteiro reconhece a excelência verde-amarela em diversas áreas. Somos referência em sistema financeiro, futebol, petroquímica, carnaval, pesquisa de vacinas, samba, agricultura, aguardente, pecuária, televisão e em tantas outras. Não necessariamente nessa ordem.
O contraponto, porém, é que os benefícios desse conhecimento ainda estão restritos a uma parcela pequena de nossa população. Enquanto que para muitos excluídos restam o anestésico da novela e futebol, o agito do samba, do carnaval e o delírio das drogas, lícitas e ilícitas.
Inegável que essa fórmula fez crescer o bolo da riqueza do país, mas não tem sido suficiente para distribuí-la melhor. Nossos problemas sociais se agravam. Como exemplo, os meios de transporte operam estrangulados. Os coletivos e os de massa estão superlotados e rumo ao colapso. E seguimos, meio que iludidos com nosso berço esplêndido, crentes que o Brasil do futuro chegará um dia para mais brasileiros.
A despeito da lentidão desse futuro tornar-se presente, vemos cada vez mais pessoas e instituições articuladas por mudanças comportamentais da sociedade. Assim, aos poucos, começamos a nos dar conta de que a solução passa pela gestão, em especial, pela atitude. Este componente completa o C.H.A. da administração de sucesso, juntamente com os dois atributos iniciais do post.
Nessa tríade, conhecimento equivale à informação, habilidade refere-se à prática e, a atitude à ação. Esta última, sublinhe, precisa estar moldada pela ética e pela gestão adequada, seja no plano individual ou coletivo, organizacional ou institucional.
A ética vai além dos valores morais ou legais. Constitui o norte da conduta humana, na busca do equilíbrio e bom funcionamento da sociedade, na aplicação da justiça social. De modo mais simples, deseje e faça ao outro o que gostaria que fizessem a você. Na ótica da coisa pública, reflita sempre até que ponto a decisão política em discussão vai atingir o interesse público, beneficiando quem realmente precisa ou se está voltada para um grupo já privilegiado?
Por sua vez, a gestão adequada compreende eficiência (uso dos meios), eficácia (resultados obtidos) e efetividade (impacto das melhorias). O conceito aplica-se para o patrimônio público ou privado, no gerenciamento de pessoas ou de negócios e em outros segmentos. A inserção da gestão ética ao conhecimento e habilidade possibilita transformar efetivamente nossa realidade, acelerando a chegada, para o hoje e agora, do tão almejado país do futuro.
A premissa de que a ética e a boa gestão devem andar de mãos dadas nos faz refletir sobre fatos atuais. Assim, espera-se que o governo tenha avaliado bem o risco de colocar boa parte de seu aparato na proteção de alguns de seus integrantes. Pelo divulgado na mídia, a blindagem de personalidade ilustre da Casa Civil foi articulada até mesmo na votação do novo código florestal. Um tema caro demais para qualquer pessoa, por envolver um legado de gerações futuras.
Dizem que cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém, nem a governos. E é grande o risco, especialmente, quando se blinda um político que, há pouco tempo, criou um telhado de vidro ao violar o sigilo bancário de um cidadão caseiro comum. Enfim, pode até não haver nada de ilegal nas denúncias de enriquecimento meteórico, todavia, instalado está o conflito ético. Vamos acompanhar os acontecimentos. Lembremos que ainda podem sair mais coelhos dessa cartola. Neste caso, a situação tenderá a complicar-se ainda mais, com abalo não apenas da imagem blindada, mas também da de seus protetores. 
Com relação à gestão, vale citar o comentário recente do ex-presidente Lula, no qual diz que a presidenta Dilma está mais invisível que o presidente dos EUA, Barack Obama. Lula até tem razão. Já vão para seis meses de um governo que precisa mostrar mais a cara, os planos e projetos. Todavia, na gestão das políticas públicas hidroviárias já existem iniciativas importantes sendo apresentadas. Dia 30, a Servidora número um do Brasil vai ao Uruguai tratar de acordos com o Presidente Mujica. Na agenda, a reativação da navegação  na  Lagoa Mirim, a fim de ampliar o transporte hidroviário de cargas e passageiros entre os dois países. 
Reunião preparatória para a
Comissão Mista Brasil-Uruguai.
Em setembro/2010, estive em Pelotas, para participar de reunião preparatória para a Comissão Mista Brasil Uruguai. (foto ao lado). Essa comissão vem discutindo as questões de interesse mútuo em torno do tema. A navegação na Lagoa Mirim depende de esforços bilaterais para preparação da infra-estrutura necessária, tais como dragagens, construção de terminais, sinalização e interconexão com outros modais.
A Lagoa Mirim tem 47% de sua superfície no RS e o restante no Uruguai. Trata-se de águas interiores com fronteira internacional. É também denominada “mar de dentro”, a considerar o grande volume de água, quando combinada com a Lagoa dos Patos. Ligando as duas lagoas existe o canal de São Gonçalo. Trata-se de um incomum estrada d´água de 76 km de extensão, natural, que chega até 300m de largura, com profundidade média de 5 metros. Nesse canal, foi construída uma barragem-eclusa, a qual tive oportunidade de visitar (foto abaixo). Concebida com base no princípio de usos múltiplos dos recursos hídricos, a obra evita a entrada de água salgada para o interior da região e assegura a navegabilidade da hidrovia, com a transposição do obstáculo da represa.
O encontro dos dois mandatários oficializa o esforço de vários órgãos e entidades dos dois países. Daí a importância do acordo para o futuro da navegação na hidrovia do sul.
Por fim, conclui-se que para alcançar um país melhor para todos é imprescindível mudar comportamentos. A participação política começa no microcosmo do indivíduo e cabe a cada um expandí-la. Sob outra ótica, se o barco não sabe aonde vai, tanto faz o vento ser favorável. Assim, é fundamental compreender os problemas derivados da gestão inadequada, em especial, da falta de diálogo entre pessoas, entre gestores públicos e entre órgãos da administração estatal. Sem dúvida, tal compreensão fará prevalecer a boa política pública, no caminho do desenvolvimento sustentável, desde que permeada por princípios éticos.

 JOSE ADEMIR MENEZES ALLAMA 
 Vista da Eclusa Canal de São Gonçalo,
 em Pelotas/RS


Um comentário:

  1. Ótimo post, Allama. Os maiores problemas que o país enfrenta, de um modo geral, e em especial na administração pública, têm como causa problemas de ordem ética. O atual momento nos remete a uma reflexão sobre isso. Gostei do jeito como você contectou a discussão ética com o mundo hidroviário. Parabéns.

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