sábado, abril 14, 2012

A SAÍDA PELA HIDROVIA

Nessa semana, o programa matinal de um importante canal de televisão surpreendeu na forma de abordagem de um tema já saturado: o caos do trânsito nas grandes metrópoles. Uma problemática que se tornou vala comum. Iniciou mostrando casos de pessoas que, dependentes do transporte público, chegam a gastar mais de 4 horas por dia entre ida e volta ao trabalho. Destacou as dificuldades e os desconfortos da viagem. Parecem espelhar mais “um meio de tortura” do que de transporte. E a população segue resignada com a falta de perspectivas e de soluções. O que é pior, em muitos locais, o quadro tende a piorar ainda mais.
Vista do Canal da Lagoa Marapendi
 Barra da Tijuca/RJ - Fonte g1.globo
Dessa vez, no entanto, a surpresa da reportagem foi apresentar a hidrovia como solução inteligente para melhoria da mobilidade urbana. Assim, enfatizou o uso de rios, lagoas e canais que cortam as grandes cidades para levar cargas e pessoas, a fim de amenizar os congestionamentos e outros problemas. E fez um teste para provar o argumento.
A prova consistiu na disputa entre um carro e um barco, num percurso de cerca de 7 km, na cidade do Rio de Janeiro. A idéia era saber, saindo ambos ao mesmo tempo, quem chegaria mais rápido ao destino final. Então, enquanto o veículo se deslocava pelas ruas movimentadas da Barra da Tijuca, a embarcação seguia um trajeto paralelo, pela Lagoa de Marapendi e seus canais. Incrivelmente, o barco chegou primeiro, com larga diferença.
E a matéria foi além. Mostrou projetos importantes em andamento em São Paulo e Pernambuco, tais como o Hidroanel/SP e a integração do rio Capibaribe ao sistema de transporte coletivo do Recife.
Projeto Hidroanel em São Paulo
170 km em 15 municipios paulistas
O circuito hidroviário paulista vai começar na represa Billings, seguir pelos rios Tietê e Pinheiros, e por um canal artificial, de 17 km, ainda a ser construído, que se unirá a represa de Taiaçupeba.  Alcançará 170 km de extensão, envolvendo 15 municípios da grande São Paulo. Cargas como lixo, entulho e produtos diversos poderão ser transportados em barcaças evitando a passagem de milhares de caminhões dentro das cidades. Possibilitará a redução no custo de transporte e nos níveis de poluição. Um projeto ambicioso, mas ainda de prazo muito longo.
Na capital pernambucana, a proposta é voltada ao transporte de passageiros, por meio da integração do transporte rodoviário com a malha hidroviária que faz Recife ser considerada a Veneza brasileira. Em 11 km do Capibaribe, serão construídos ancoradouros em pontos movimentados da cidade, capazes de atender até 10 mil passageiros, reduzindo pela metade o tempo de viagem até o centro. Nesse caso, o horizonte previsto é para 2014.
Gostei muito da reportagem. Penso que para muitos telespectadores ficou a mensagem de que a hidrovia, em muitas cidades, constitui uma saída racional e relativamente barata para amenizar quadro caótico do trânsito brasileiro, na medida em que oferece mais rapidez, economia e menos poluição.
Catamarã da Travessia POA-Guaíba
Vale acrescentar outro caso de sucesso: a travessia hidroviária Porto Alegre-Guaíba. Em operação e já citada neste espaço. Seu êxito vem entusiasmando outras administrações municipais na orla da hidrovia do Sul. De imediato, entendo que o modelo poderia atender ao transporte dos trabalhadores para o Pólo Petroquímico de Triunfo ou para outras localidades. Retiraria da estrada os enormes comboios de ônibus que congestionam diariamente as BR´s 386 e 116. Uma solução que poderia auxiliar a desafogar importantes trechos dessas estradas. Em lugar disso, está em construção uma rodovia paralela à BR 116, com gastos de milhões de reais em desapropriações e pistas, viadutos e pontes faraônicas.
Os exemplos comprovam que o modal hidroviário é viável, sob os aspectos econômico, social e ambiental, tanto na implantação, quanto no uso ou manutenção. Talvez, por ironia, uma das dificuldades resida no fato de o setor exigir recursos menos vultosos, reduzindo margens para desvios, corrupções e patrocínios. Estes, felizmente, têm sido divulgados com freqüência pela mídia e fiscalizados por instituições e órgãos de controle.
Navio rebocado na hidrovia do Sul,
visto pela janela da UAR-PL
Desse modo, para que o segmento se desenvolva urge maiores investimentos, da fim de que a hidrovia ofereça condições favoráveis a uma navegação segura, tecnologicamente avançada e de preços módicos. É necessário ampliar a integração com portos, terminais e com outros modais de transporte. Por fim, é preciso aprender a arte de vender tais projetos aos usuários, ao governo, a investidores privados, à sociedade como um todo, seja em modelos de parceria, seja com o uso de recursos públicos. Nesse sentido, os meios de comunicação exercem papel fundamental. E o fizeram muito bem, na elaboração da referida reportagem.


Por JOSE ALLAMA


Fontes:

 

4 comentários:

  1. Gostei muito deste texto. Para mim, foi uma surpresa ver as hidrovias como alternativa viável do ponto de vista do interesse individual, pelo ganho de rapidez, na locomoção urbana nos grandes centros.

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  2. Excelente. O Brasil precisa urgentemente olhar com seriedade para a alternativa hidroviária, principalmente em grandes centros como São Paulo e agilisar o transporte, descongestionar o trânsito, diminuir a poluição, melhorar a logística da cidade entre outros benefícios.

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  3. Há que se considerar ainda que o transporte hidroviário promove a economia de combustível e menor poluição atmosférica.

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  4. Por falar em ônibus urbanos, para cada linha de ônibus licitada deveria haver almenos duas empresas diferentes prestando o serviço.

    Imagine se para irmos de p.ex., de Brasília a São Paulo houvesse só uma empresa aérea...

    É preciso haver no transporte urbano a saudável competição, para o bem dos serviços de transportes concedidos.

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