domingo, setembro 04, 2011

ORGULHO E VERGONHA


Nosso país tem uma capacidade incrível de surpreender em aspectos positivos, mas também, de nos revelar exemplos negativos. Não nos faltam paradoxos. De modo mais simples, contradições. Como pessoas passando necessidades num país tão rico como o Brasil. Como os sistemas legais e procedimentais rigorosos que dispomos e inúmeros casos de corrupção, desvios e impunidades. Como ter tantos caminhões e carros nas ruas e os rios vazios, subutilizados.

Dos diversos fatos divulgados na mídia nacional essa semana dois deles merecem destaque. Um deles nos enche de orgulho, o outro, de vergonha, como na foto publicada no Jornal A TARDE, da Bahia. Dois extremos e um embate que desperta reflexão.

Fonte:  Jornal A TARDE
No lado orgulhoso desse destaque, Fabiana Murer coloca o atletismo brasileiro na história dos campeonatos mundiais ao ganhar a medalha de ouro no salto com vara. Na face vergonhosa das manchetes, Jaqueline Roriz. A Deputada foi absolvida do processo de cassação de seu mandato, pela maioria de seus pares e em votação secreta, no plenário da Câmara Federal.

Num feito histórico, Fabiana saltou 4,85 m de altura e superou toda a elite mundial do esporte nessa categoria, inclusive a russa Yelena Isinbayeva, recordista mundial e bicampeã olímpica. A conquista de nossa atleta é resultado de anos de esforço e determinação. Desde 1998, já vão 14. É considerada, hoje, uma das saltadoras mais técnicas do circuito internacional. Fala-se agora no desafio de ultrapassar a marca 5 metros. Na escala dessa modalidade esportiva, o avanço de centímetros implica dedicação quilométrica.

Na face oposta e constrangedora, Jaqueline Roriz. Escapou do processo de cassação, decorrente da divulgação de um vídeo onde aparece recebendo pacotes de dinheiro do GDF. Além dela, outros políticos distritais foram filmados “metendo a mão na grana”. Recurso público por demais necessário na saúde, na educação, nos transportes e demais áreas. A gravação é de 2006, mas apareceu apenas no início deste ano. Em sua tese de defesa argumentou que na época do fato não se encontrava no exercício de qualquer mandato. Portanto, não haveria que se falar em “quebra de decoro”, ou seja, de decência. A estratégia deu certo.

Para que a deputada fosse punida parcialmente pelo delito (perda do mandato e inelegibilidade por oito anos) eram necessários 257 votos (metade mais um dos excessivos 513 parlamentares da Câmara. Mas, tivemos mais do que isso a favor da acusada. Foram 265 votos. Pela cassação, apenas 166 deputados. E, exceto pelos discursos prévios e por alguém que, eventualmente, tenha manifestado a sua opinião não saberemos quem condenou ou relevou o ato. O ultrapassado mecanismo de voto secreto camufla a face de nossos representantes. Em regimes ditatoriais essa proteção é compreensível, mas numa democracia a transparência é fundamental e saudável para a instituição.

Penso que os que decidiram pela punição basearam-se na ética, na moralidade, na dignidade da função pública, na lei da “ficha limpa” e na luta contra a decadência de nosso sistema de democracia representativa. Já os demais, devem ter seus motivos. O que fica é a ideia de que essa Casa Legislativa perdeu uma grande oportunidade de fortalecer perante a sociedade um dos princípios mais importantes da sua existência, o interesse público.

Em que pese ter escapado desse processo, Jaqueline ainda responderá por crime contra a administração pública no Supremo Tribunal Federal. E, nesse julgamento, não estará em risco apenas um mandato, mas sim, de passar uma temporada na cadeia, se condenada. A esperança de aplicação dos rigores da lei neste caso depende agora do STF.

Desfile de 188 anos da Independência 
Foto: Pablo Valadares/AE
Vale destacar também que há tempos o Judiciário vem decidindo questões nas quais o fórum adequado deveria ser o Poder Legislativo. A sociedade tem essa percepção. A cobrança por uma postura mais ética por parte de nossos políticos ganha força. As pessoas estão mais críticas e organizadas. O post anterior continua atualíssimo. As redes sociais mobilizam marchas contra a corrupção em várias cidades do País. Dia 7 de Setembro será em Brasília. Dia 20, no Rio. Nesta comemoração de independência brade o grito contra a corrupção.

O compromisso com a moralização no trato da coisa publica é meu, é seu, é de todos nós.  Seja vigilante. Acompanhe os posicionamentos de decisões dos parlamentares que o representa, seja nesse caso e nos demais temas. Essa, sem dúvida, é uma das formas mais efetivas de construir o pais que desejamos. Socialmente mais justo, ética e politicamente correto, economicamente viável e ecologicamente sustentável.

Parabéns à Fabiana. Que supere, em breve, novos desafios e continue nos dando motivos de orgulho. Quanto à personagem do extremo oposto, vamos torcer e agir para que funcione o popular e velho ditado: a justiça tarda, mas não falha. E que sirva de exemplo para políticos que ainda não entenderam que são meros servidores, eleitos para servir ao público e não para se servir do público.

Por JOSE ALLAMA

2 comentários:

  1. Ademir, não tenho tido muito tempo para ler todos os teus artigos mas vejo que continuas incansável na defesa da implantação da hidrovia como alternativa para o setor de transporte brasileiro. Tu já deves saber que recentemente (+/- 30 dias) fomos agraciados com o sistema de barcas para a travessia do Lago Guaiba-Porto Alegre. Além de muito rápido - cerca de 20 minutos - tem uma vista lindissima... E está fazendo o maior sucesso! Continue levantando esta Bandeira, quiçás serás atendido!!!!???? Um grande abraço. Ione Allama

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  2. Também orgulho nos trazem os batalhadores das madrugadas, enfermeira(os e médicos salvando vidas nas UTIs, bombeiros e policiais diligentes, agricultores, as pessoas que se levantam à 4h30 para retirar leite das vacas, e toda a sorte de profissionais úteis que são esquecidos.

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