domingo, junho 19, 2011

MUDANÇA, PLANEJAMENTO E HIDROVIA


A velocidade das mudanças impressiona. Não muito tempo atrás, havia a idéia de que no futuro trabalharíamos menos, haveria mais tempo livre e as pessoas teriam mais tranqüilidade. Entretanto, parece não ser esse o resultado por aí. Hoje, a vida está mais agitada. A maioria tem uma longa jornada de trabalho, dorme menos e o tempo livre diminuiu. Cada vez mais pessoas sofrem com doenças da pressa como stress e depressão.
A tecnologia e suas máquinas mirabolantes prometiam economizar tempo. Se por um lado, ampliaram a capacidade humana, de outro, passaram a absorver como nunca. Ficamos mais horas presos no trânsito, ao telefone, TV, Internet, às contas e compromissos. Vemos reduzir aquele tempinho para si próprio ou para convivência com os nossos. Se a situação está melhor ou pior, há controvérsia. Levados na onda, seguimos nessa agitação. Do tsunami diário de notícias, buscamos sínteses. Lemos artigos pela diagonal. Como não naufragar no turbilhão da modernidade?
A importância do Planejamento !
Nesse contexto, foco e planejamento tornaram-se essenciais. Foco é escolher e priorizar. Planejamento é antecipar-se à ação. É imaginar o futuro em cenários e rumos e minimizar os efeitos indesejáveis que podem desviar do objetivo. Uma saída é a estruturação de planos em três dimensões: pessoal, organizacional e nacional.
Na primeira dimensão é vital o equilíbrio entre os papéis que consolidam o ser humano: familiar, profissional, social, político, entre outros. Tal desafio pode ser mais factível quando associado a metas e objetivos individuais. Como na canção nativista do gaúcho Mano Lima, onde diz que “...o cavalo se conhece no rodeio e o homem, na causa que abraça.” No plano pessoal, também abracei a hidrovia. Satisfação gera motivação e forma um ciclo virtuoso. Isso é fundamental. Especialmente no vetor profissional, ao qual dedicamos boa parte do tempo de nossa vida. Percebe-se que muitos esperam tirar férias para curtir a vida. Outros acham que quando casar, concluir um curso superior, tirar uma licença ou se aposentarem serão felizes.
Inspira-me pensar que o bom da viagem é também o caminho e não apenas a chegada. Motivado no trabalho, você vai além de cumprir tarefas e esperar o mês por 30 dias para receber o salário. Evidente que os gestores influenciam fortemente esse nível de satisfação. Às vezes, subutilizam potenciais e causam um efeito contrário: a insatisfação. A gestão de pessoas tem muito a evoluir. Esse gancho possibilita a abordagem da dimensão seguinte, a organizacional.
Nessa segunda perspectiva, vale citar que a ANTAQ desenvolve seu planejamento estratégico – PE para o horizonte de cinco anos. Superada a fase metodológica e de discussões sobre conceitos, objetivos e propostas, inicia-se, agora,  a relevante etapa de desdobramento dos projetos e de pôr em prática o planejado. No setor público, têm-se visto diferentes resultados em projetos de planejamento. Alguns participativos e consistentes, todavia acabam propositalmente na gaveta. Outros feitos em gabinete, com reduzida participação, e que não avançam por falta de comprometimento dos que vão aplicá-lo. Via de regra, terminam engavetados. Mas, existem bons exemplos que podem nos servir de referência.
O planejamento da ANTAQ tem instigado a participação. Os projetos em andamento são consistentes. Pode tornar-se um voo de águia. Cabe agora o engajamento dos servidores na missão de conquistar o reconhecimento da sociedade e de transformá-la na melhor agência para se trabalhar. A postura da direção da ANTAQ será decisiva para que o projeto encontre efetividade, e que não seja mais um plano a seguir para a gaveta. Aliás, dizem que o Brasil possui uma das maiores bibliotecas de planos do mundo.
Na questão da legitimidade vale destacar o conceito denominado “ponte das mudanças”, de autor desconhecido. Nessa ótica, o planejamento de uma mudança se dá quando um grupo, órgão ou empresa propõe um cenário desejado. Por ser diferente do atual, necessita da construção de uma ponte entre as duas situações. Para cruzar essa nova passagem, as pessoas precisam confiar nela o bastante para abrir mão de um status e invadir o futuro em busca de um adicional compensador. A melhor maneira de gerar confiança nessa ponte é envolver e comprometer as pessoas que vão atravessá-la.
Essa premissa oferece conexão com a última dimensão, a nacional. Aqui se encontra o Plano Plurianual – PPA. Constitui o mais importante instrumento de gestão de médio e longo prazo do Executivo federal. É a foz dos planos, onde deságuam todos os demais. Nele, constam os programas que serão desenvolvidos pelo governo. O PPA 2012-2015 envolve a discussão sobre eixos de desenvolvimento, em oficinas de trabalho, com a participação de representantes de órgãos e entidades da União. O Ministério dos Transportes estendeu convite à ANTAQ para contribuir nessa missão. Integrantes da Navegação Interior da agência tiveram a oportunidade de participar. Apesar de não fazer parte dessa equipe, fiz questão de encaminhar contribuições ao processo, as quais registro também neste blog.
Considero fundamental o alinhamento de projetos do PE - ANTAQ com o PPA. É altamente recomendável que as ações e programas a serem implantadas no setor hidroviário estejam em harmonia com programas de trabalho do plano federal, com previsão de orçamento, ações e responsáveis. Da análise das informações da minuta desta primeira oficina destaca-se como aspecto positivo o fato da proposta se basear no Programa Nacional de Logística e Transportes - PNLT e abordar a questão da integração Sul-Americana. Um ponto a refletir é que o texto em discussão não explora alguns pontos críticos do setor, tais como os identificados nas Diretrizes da Política Nacional do Transporte Hidroviário, recentemente divulgada por aquele Ministério.
Desse modo, como contribuição de melhoria ao processo, recomenda-se a divisão da tema hidroviário em transporte de passageiros e em cargas; o cruzamento do PE- ANTAQ com as temáticas do PPA; e a verificação sobre como a Secretaria de Portos - SEP encaminhará suas contribuições, a fim de incluir as demandas da hidrovia no que se refere ao setor portuário.
     Além dessas sugestões, é oportuna a avaliação da pertinência de inserção de outras questões relevantes do setor hidroviário no PPA, a exemplo os programas de qualificação da mão-de-obra, pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para a hidrovia, promoção do empreendedorismo, instalação de pólos industriais às margens dos rios ou de migração de fábricas, criação de conselhos e conscientização dos usuários sobre serviço adequado, de participação e controle social da regulação, articulação de esferas de governo para melhoria do planejamento e gestão do setor, estímulo a estudos e projetos para uso do Fundo da Marinha Mercante – FMM e de articulação com organismos internacionais em prol da hidrovia, como principais;
Para encerrar essa perspectiva, vale frisar que plano 2008-2011, em sua mensagem ao Congresso Nacional, o governo adotou o lema Desenvolvimento com Inclusão Social e Educação de Qualidade, com foco no investimento público para a redução das desigualdades regionais. Na proposta 2012-2015, sugere-se o slogan Fortalecimento da Infraestrutura Econômica e Social Brasileira rumo à Sustentabilidade, com ênfase na implantação de parcerias público-privadas.
Por fim, concluindo a análise das três dimensões, destaco uma lição relevante extraída de um filme despretensioso. Mostrava a historia de uma tribo que fora capturada, cabendo a um dos rebelados libertar os demais. Acreditava não estar à altura da missão até ouvir de seu mestre algo marcante. “Muitos homens fazem um círculo em torno de si e colocam lá dentro sua pequena família. Outros ampliam esse círculo para incluir mais pessoas nessa proteção. Mas, os grandes líderes são capazes de colocar uma nação inteira dentro dessa circunferência”. Esse ensinamento o fez encontrar saídas e conduzir seu povo à liberdade. Essa analogia provoca reflexões sobre o nosso dia-a-dia. Assim, independente do tamanho do círculo de proteção que você tenha adotado ou da pressão sofrida nesse ritmo de vida cada vez mais acelerado, em qualquer coisa que se faça, o essencial é fazer a diferença.

JOSE ALLAMA

Um comentário:

  1. Um passo importante é estar no PPA. A popularização da idéia e o conhecimento do projeto por todos, talvez seja, um salto para evitar a gaveta! Parabéns pelo artigo.

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