Hidrovia Tietê – Paraná: Não vê quem não quer.
Em 2003, quando empossado Secretário da Juventude, Esporte e Lazer do Estado de São Paulo, fomos instigados a conhecer a Hidrovia Tietê-Paraná. Uma estrada d´água pouco conhecida e subutilizada. Colosso de obra de outrora e retrato de um Brasil que teima não diversificar seu modelo de transporte de cargas.
O pivô da viagem era o empreendedor e dinâmico Almirante Pierantoni, Comandante do 8º Distrito Naval, com sede na capital paulista. Ele convidara também o lendário navegador Amyr Klink e autoridades das Secretarias Estaduais de Transporte; Energia e Recursos Hídricos; Meio Ambiente; Casa Civil; Agricultura. Ainda em nossa comitiva, à bordo do confortável “Ana C” do empresário Renan Ferro, a presença do Prefeito “Nenê” de Barra Bonita e da imprensa.
Como artéria que desbravou os sertões paulistas, o Tietê é um rio intrigante. Nasce cristalino há poucos quilômetros do oceano, no alto da Serra do Mar, em Salesópolis. Teima em correr para o interior. Alcança o mar via rio Paraná e a Bacia do Prata. Ao descer a serra, passa pela região metropolitana de São Paulo, onde se torna um dos cursos d´água mais poluído e asqueroso do planeta. Após a capital paulista, o Tietê milagrosamente vai se despoluindo em função de oxigenação (quedas d’água e usinas hidrelétricas); filtração (mata ciliar); decantação (reservatórios formados pelas barragens das Usinas Hidroelétricas) e diluição (contribuição de afluentes).
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| Eclusa da UHE Barra Bonita/SP |
Começamos a viagem pela Hidrovia no município de Dois Córregos, aonde o rio Piracicaba encontra o Tietê, e logo fizemos a primeira eclusa na barragem hidroelétrica Barra Bonita (foto ao lado).Fizemos várias “eclusagens” (transposição dos desníveis das represas) e, paramos para debater o potencial da hidrovia com o poder público e empresarial local. O debate se deu na Câmara Municipal de Penápolis. Na sequência, em Araçatuba, encontramos o Governador Geraldo Alckmin, com seu governo itinerante. Entramos no Canal de Pereira Barreto (foto abaixo) e chegamos ao Rio Paraná, na altura do município de Itapura. Pasmem! O rio Tietê do meio até o final do seu curso, torna-se límpido e tem cor de esmeralda.
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| Embarcação típica da hidrovia, no Canal Pereira Barreto/SP |
Já no barrento e pujante rio Paraná, nossa aventura bandeirante contemporânea segue rumo ao Sul, aonde, após mais de 1.200 km percorridos, chegamos ao destino, no município de Presidente Epitácio. Lá, Amyr proferiu uma bela palestra, deixando a comitiva convencida das potencialidades de um modelo de transporte que o Brasil ainda ignora. Poderíamos ter seguido até Foz do Iguaçu, mas, era momento de retornar.
O transporte aquaviário existe e a Marinha mantém a cartografia e o balizamento impecavelmente em dia. As barcaças transportam basicamente a cana de açúcar para as usinas e o terminal intermodal de Pederneiras faz a conexão da hidrovia para a ferrovia e rodovias. É o sertão do Brasil que pode escoar de São Simão/GO até o Porto de Santos. Todavia, nossa visão míope prefere ainda priorizar as rodovias, mais caras, mais poluentes e mais perigosas. É parte do chamado custo Brasil.
Parte desta miopia é cultural. Ao falar em transporte, logo pensamos em rodas. Um comboio deste, pode representar mais de 40 carretas rodoviárias. Ainda assim, nossa política de transportes insiste nas rodovias. Outra parte, é proposital e dominada pelo cartel do transporte rodoviário.
O Brasil do futuro terá de aprender mais sobre sustentabilidade. E saberá que escoar a produção mineral e agrícola através de hidrovias, ferrovias e rodovias, nessa ordem de alternativas, constitui modelo econômico e ambiental mais racional. Mesmo um gigante, que produza grãos no norte do Mato Grosso e os leve de caminhão até o porto de Paranaguá, não tem futuro. Não será competitivo.
Que nossos estrategistas do momento, inspirem-se nos Bandeirantes.
Lars Grael
