A oportunidade de
representar a Agência Nacional de Transportes Aquaviário na cerimônia de entrega da licença de instalação do projeto de revitalização do Cais Mauá, no Porto de Porto Alegre, no último dia 6, inspirou-me a publicar novamente no Blog da Hidrovia, com a divulgação do discurso que proferi na ocasião.
Essa revitalização “patina” há décadas, em decorrência principalmente da dificuldade da sociedade gaúcha e porto alegrense entender aspectos básicos do setor portuário, de suas interfaces e do próprio projeto em si.
Por acreditar no potencial da ideia de reocupação e exploração dessa importante área do porto da capital, atualmente não mais operacional, e por conhecer o projeto desde o tempo em que atuei na unidade regional local da ANTAQ, achei que era uma chance ímpar de esclarecer questões relevantes a tantas autoridades municipais e estaduais reunidas num mesmo local. Com esse propósito, solicitei ao cerimonial para manifestar-me no evento, e discursei conforme abaixo:
Cerimonial do Cais Mauá, com autoridades, servidores e convidados. |
"Bom dia a todos e a todas, cumprimento
as autoridades, servidores e convidados na pessoa do Sr. Governador José Ivo
Sartori, do Prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Junior e do Sr. Janir
Branco, dirigente da Autoridade Portuária do porto de Porto Alegre.
Como gaúcho e guaibense é dupla a
satisfação de representar o Diretor Geral da Agência Nacional de Transportes
Aquaviários, Dr. Adalberto Tokarski, nesta cerimônia de entrega da licença de
instalação do empreendimento de revitalização da área do Cais Mauá. Pediu-me ele que falasse em seu nome, de que
está empenhado em agilizar os processos da ANTAQ que envolvam portos e
hidrovias, a fim de contribuir com o desenvolvimento regional e do país, em
especial do Rio Grande do Sul, por todo o potencial que o modal aquaviário
representa ao Estado.
A liberação da licença da prefeitura
de Porto Alegre é um passo importante no projeto, que já acumula 7 anos de
execução deste a sua licitação. E aproveito essa oportunidade para esclarecer
pontos relevantes sobre a gestão portuária no RS e sobre o projeto Cais Mauá.
Em que pese essa instalação portuária
estar encravada no coração da cidade, de ter sido o berço de sua construção, de
levar o seu nome, o porto não é do município de Porto Alegre. A despeito de estar há décadas sob a
gestão de governos gaúchos, o porto de Porto Alegre também não é do Estado do
RS.
Área Operacional do Cais Navegantes |
Trata-se de bem público da União, no
qual o Ministério dos Transportes exerce o papel de Poder Concedente e a ANTAQ
de órgão regulador e fiscalizador. Nesse contexto, este e outros portos
organizados federais localizados no Estado foram delegados ao RS para serem
explorados 25 anos, cujo prazo expira em 2022, com possibilidade de prorrogação.
Contrariamente também à ideia de
alguns grupos de pressão da sociedade gaúcha de fazer dessa instalação um local
público, destaco que se trata de espaço diferenciado, com fronteiras abertas
para o mundo, com fluxo de pessoas e mercadorias internacionais, devendo
portanto, em algumas áreas serem mantidas certas restrições de operação e acesso, o que justifica
a ação e o interesse federal, previsto na Constituição de 1988.
O Porto de Porto Alegre tem mais de 8
km de extensão e um canal de acesso com quase 300 km. Apesar de estar na beira
de um rio, é considerado um “porto marítimo”, por receber navios da navegação
de longo curso. Infelizmente, a profundidade de apenas 17 pés, inferior a 6
metros, afeta seriamente a sua competitividade e o afasta das rotas e escalas
de navios cada vez maiores, com 12, 14 e 18 metros de calado. Nesse cenário, o
melhor é intensificar sua vocação à navegação interior.
Armazéns Cais Mauá. Foto Allama - Nov/16 |
Noutra ótica, face a situações nas
quais os recursos públicos estão cada vez mais escassos, a solução é a parceria
com a iniciativa privada. Assim, em 2010, o governo do RS,
conduzindo um processo em gabinetes, fora do ambiente decisório portuário,
firmou contrato de exploração do Cais Mauá, ignorando a titularidade desse bem
público federal e excluindo a ANTAQ da licitação.
Tivemos que ir ao Supremo Tribunal
Federal, o qual suspendeu o processo. Como resultados, garantiu-se a
interveniência da ANTAQ, fortaleceu-se o papel da Autoridade Portuária (uma
autarquia estadual) como gestora do contrato, ajustou-se sua equação financeira
(prevendo-se o reequilíbrio) e, em especial e importante, assegurou-se a reversão dos bens
ao patrimônio do porto, ao final do arrendamento.
Em paralelo e na sequência, sucessivas
crises econômicas afetaram o projeto. Grupos de pressão e até gestões
anteriores da autoridade portuária boicotaram o empreendimento. Todavia, as
dificuldades foram superadas.
Perspectiva do Projeto Cais Mauá, em Porto Alegre. |
Faltam as licenças municipais. Agora,
a cidade concede a de instalação, em conformidade com suas competências
constitucionais, de órgão local, de acordo com seu plano diretor. Outras serão
necessárias.
Quero assegurar-lhes, sr. Governador Sartori e
Sr. Prefeito Marchezan, que a ANTAQ seguirá atenta ao fiel cumprimento pelas partes do
contrato de arrendamento, dos requisitos legais e de suas próprias resoluções,
como órgão regulador e fiscalizador do setor portuário e aquaviário.
Projeto de recuperação da Orla do Guaíba |
Ao final de minha fala, um silêncio geral. Imagino que alguns tenham se perguntado: - Quem convidou a ANTAQ para participar de nossa celebração, mesmo?
Todavia, entendo que os esclarecimentos técnicos foram oportunos. O projeto precisa de continuidade, gestão adequada, regulação e fiscalização, a fim de que a sociedade gaúcha usufrua efetivamente desse bem público, à beira do Guaíba. Agora, estamos mais próximo do sonho de conectar os dois projetos de revitalização, o da orla e do Cais Mauá. O maior beneficiado será o interesse público. E, seguindo sua missão, a ANTAQ apoiará sempre esse objetivo.