domingo, abril 01, 2012

O PESO DO TRANSPORTE PÚBLICO NO ORÇAMENTO FAMILIAR GAÚCHO

É interessante quando se pode observar uma situação qualquer, a partir de um ângulo externo. Morar um período fora fortaleceu minha admiração pela cultura, capacidade e tutano do povo gaúcho. Longe de Brasília, passo também a percebê-la de modo diferente. Curti viver no Distrito Federal e, não há como não fazer comparações. Curiosamente, antes de vir embora, ouvi de muitos que sentiria grande diferença no custo de vida em Porto Alegre, sob todos os aspectos, menor que o da capital federal. Pois bem, vejamos se essa assertiva, na prática, é verdadeira.
Pôr do sol do Guaíba, visto do Catamarã
Neste primeiro mês nos pagos gaúchos, em avaliações cotidianas de dois segmentos essenciais da vida urbana, um deles confirma a assertiva, outro surpreende, por demais, negativamente.
A primeira análise, numa pesquisa simples no ramo imobiliário, revela um hiato enorme. Os imóveis em solo riograndense custam menos que os ofertados em Brasília. O preço do metro quadrado na ilha da fantasia, mesmo encravada na imensidão subaproveitada do cerrado, de forma insensata, é um dos mais caros do país.
Noutro segmento escolhido, referente aos gastos com transporte, o resultado é intrigante. Estranhamente, tais custos são significativamente maiores na capital gaúcha e região metropolitana. Tudo bem que os meios de locomoção coletiva em Brasília têm sérios problemas em algumas rotas e horários, mas o “gap” dos preços das duas capitais é um disparate. Para comprovar, nada melhor que expor casos concretos.
Num exemplo próprio, eventualmente, para ir e voltar ao trabalho, num percurso aproximado de 50 km, o gasto diário no transporte coletivo no DF era de R$ 6,00. No coletivo rodoviário de Guaíba-POA, esse valor aumenta 127%, saltando para R$ 13,60 em distâncias equivalentes. E, quando se parte para a opção hidroviária, com integração de ônibus em apenas um dos lados, o gasto salta para R$ 19,30, o que representa 222% de aumento.
Outra situação incrível é o transporte escolar na cidade de Guaíba. Não é racional ser possível contratar um serviço de van, de porta a porta, mais barato que o ônibus de linha regular. Seria aceitável pagar um percentual a mais pela conveniência e conforto. Porém, o serviço privativo permite economizar cerca de 20% do valor do coletivo. Pudera, com uma tarifa de ônibus municipal a R$ 3,00 para percursos médios de 5 km, o impensável acontece.
Não bastassem tais exemplos, o caso mais impressionante e motivo deste post são os gastos com transporte do exemplo real de uma mãe guaibense levando o filho ao médico na capital. Enquanto em Brasília, saindo de ônibus de uma região administrativa para o Plano Piloto, a ida e volta para os dois custa R$ 12,00, no RS, vai de R$ 38,60 (a depender de uma só integração, num dos lados) a R$ 48,80 (na opção hidroviária, com integração de ônibus na origem e no destino). Este último cálculo significa um aumento de 307% no referido gasto no DF.
Conclui-se, portanto, que existe algo curioso no transporte do RS. Nesse quesito supera Brasília. Penso ser razoável a qualidade do transporte coletivo daqui. O que causa perplexidade é o preço pago pela sociedade. E se considerarmos que alguns dos exemplos se repetem diariamente e, outros casos, com certa freqüência, ao longo do mês ou ano, tais cifras somam recursos significativos, especialmente quando se depende de um salário que nem sempre acompanha a evolução desses custos.
Desconhecia o peso da fatia dos gastos com transportes na renda familiar do gaúcho. O trânsito em Porto Alegre, assim como em muitas capitais, ficou caótico. Circular de carro próprio no centro e em muitos bairros de Porto Alegre ficou proibitivo devido aos congestionamentos, ausência de vagas e preços de estacionamentos. Urge investir em sistemas de transportes coletivos baratos e eficientes.
Como cidadão e usuário de serviços públicos, entendo que o quadro exige vigilância e zelo das autoridades. Mormente, daquelas responsáveis por políticas públicas, pela regulação e fiscalização dos serviços públicos e seus respectivos órgãos de controle, seja qual for o modal ou esfera de governo competente. Desse modo, entre os princípios que norteiam a prestação do serviço estatal, muitas vezes, oferecido por empresas privadas, destaco dois deles: serviço adequado e modicidade de tarifas e preços.
Por fim, caberá sempre a cada cidadão e a sociedade organizada exigir a fiel observância desses e outros mandamentos legais, com objetivo de imprimir maior racionalidade a eventual “estado de coisas”, a fim de  se corrigir discrepâncias inexplicáveis. É preciso ter consciência de um fato: se você não estiver fazendo sua parte, estará deixando-a para que alguém faça por você.


Por JOSE ALLAMA

3 comentários:

  1. Allama, percebi em viagens pelo Brasil afora que Brasília tem um custo elevado em moradia, mas em outros aspectos, principalmente alimentação, aqui ganha de outros lugares, inclusive àqueles estados mais pobres como Piauí e Maranhão.

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  2. Guaíba vivenciava, um monopólio nos transportes. A implantação do percurso hidroviário, quebrou, com demora este ciclo. Contudo os preços praticados se mantêm. Quanto ao trânsito, a bicicleta venceu em menor tempo, que o carro e o ônibus, em recente teste de mobilidade em Porto Alegre. Já foi dito, que ao sairmos da nossa garagem, estaremos no engarrafamento. Não há lugar para tanto carro! Paulo

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